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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

“Identidade Desconhecida” - de Florbela de Castro


Quem és tu?
Que me queres?
Por que me olhas assim?
Esse olhar penetrante arranca
Eróticos sentimentos adormecidos em mim!
Quem és tu?
Que me queres?
Por que me beijas assim?
A tua boca envolvente
Devora-me impiedosamente
E tinge-me a face de carmesim.
Quem és tu?
Que me queres?
Por que me tocas tão fundo?
Os teus dedos voluptuosos
Tecem carícias vívidas
Que me levam ao rubro!
Deixa-me descobrir-te!
Deixa-me desmascarar-te!
Deixa-me ver-te!
Denuncia-te! Exala os teus mais profundos sentimentos!
Não me deixes nesta espera perene
Com o sabor fugidio da dúvida…
Quem és tu?
Que me queres?
Por que me possuis deste jeito?
A tua carne invade a minha carne,
Até às entranhas
E nos píncaros ateia fogo no meu peito!
Vem!
Liberta-te!
Explode em mil confissões e desabafos!
Deixa que os teus lábios provem o fruto do amor
Deixa que a tua língua sinta o paladar do cálice da verdade!
Grita!
Chama-me!
Desnuda-te de todas as misérias e enganos!
Deixa que o teu nome ecoe nos dois hemisférios do meu cérebro!
Deixa que a tua personalidade ressoe no meu espírito!
Deixa-me alcançar-te!
Deixa-me…
Deixa-te…
E foi então que te Vi!

1989
Florbela de Castro

Autor da imagem: Josephine Wall 


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