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domingo, 13 de março de 2011

Açucena: CHAPTER I - 1ª temporada - de Florbela de Castro



Era uma vez uma rapariga chamada Açucena que vivia numa casa modesta e trabalhava como costureira. Açucena era muito hábil e costumava fazer lindos vestidos e fatos. Era órfã há pouco tempo; os seus progenitores eram barões arruinados, que haviam perdido tudo o que possuíam por dívidas com credores. Era comum vários nobres viverem acima das suas possibilidades, dependendo de favores reais e fazendo por ostentar uma magnificência que, com sorte e esperteza, os poderia levar ao triunfo e à abastança e com azar, os afundaria.
Açucena era de estatura quase mediana, pele entre o branco e o pêssego claro, enormes e amendoados olhos cor de mel e longo e sedoso cabelo da mesma cor, ondulado e anelado.
Perto dela vivia Philippe, um lindíssimo homem de cabelo loiro escorrido e enormes olhos azuis e voz grave. Rondava os trinta anos e trabalhava como professor e perceptor e vivia com uma governanta. Ninguém sabia exactamente das proveniências do loiro homem, visto que ele mudara-se para aquele bairro há 7 anos; no entanto falava-se que ele teria sangue dinamarquês e italiano. Isso explicaria a alta estatura e o seu porte um pouco atlético e a pele a fugir para o dourado claro. Philippe era doce, culto e honesto, mas entrevado. Ele amava discretamente Açucena. Eram bons amigos e ela até já tinha percebido o quanto ele a amava, mas não levava esse sentimento muito a sério, preferindo encará-lo como irmão. Açucena era boa moça sonhava em poder vestir os lindos vestidos que fazia e até quem sabe casar com um nobre.
Só este pensamento fazia-a sonhar. Isso e ouvir os relatos das jovens e senhoras que frequentavam os bailes de corte ou dos palacetes dos nobres; também trabalhar no meio das sedas, brocados, cetins, gazes, veludos, e arminhos, transportavam-na para fantasias líricas que ela alegremente partilhava com Philippe. Este ouvia os seus devaneios em silêncio e apenas dizia quase num murmúrio que ela deveria ficar maravilhosa dentro daqueles trajes, mais bela que todas as outras. E geralmente após esta afirmação, o seu olhar tornava-se melancólico; e ainda mais melancólico se tornava quando ela referia os seus sonhos de casar com um homem nobre.
Numa dessas vezes em que Açucena sonhava com vestidos sumptuosos e maridos ricos. Philippe perguntou-lhe:
- E o amor? Não acreditas que o amor está acima disso tudo? Não acreditas que o amor verdadeiro esteja escrito nas estrelas, desde tempos imemoriais?
Açucena estacou, olhando para ele.
- Acredito sim. E acredito que o destino me reservou uma surpresa, um “príncipe encantado” que me vai dar uma boa vida, passeios românticos e festas, belas flores pela manhã e doces momentos à noite. – Replicou sonhadora.
Philippe sentiu um nó na garganta, engoliu em seco e com uma voz um pouco rouca, interpelou:
- E porque achas que só um nobre ou um homem rico te podem dar isso?
Açucena, que se pusera a bailar sonhadora pela sala, suspirou um pouco impaciente e em tom condescendente, retorquiu:
- Philippe, sabes perfeitamente que eu e tu não somos feitos um para o outro! Eu adoro-te como irmão, és lindo e maravilhoso, mas tu não podes… - parou bruscamente e prosseguiu num tom mais doce – eu desejo ter filhos…
Abraçou-o fraternalmente, beijando-o na testa; este cerrou os olhos com enlevo enquanto aspirava o perfume da pele dela e dos seus cabelos.
- És uma alma iluminada, Philippe, decerto vais encontrar uma linda esposa! – E saiu correndo, atirando-lhe um beijo, deixando um triste Philippe a apertar os dentes.
Um belo dia, Açucena deslocou-se ao paço dos duques de Antigny. Estes tinham um casal de filhos, sendo a filha da idade dela. Ia haver uma festa e a jovem quis encomendar o seu vestido a Açucena, pela graciosidade e perfeição dos seus bordados.




Imagem:Jonathan Earl Bowser
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Artwork © Jonathon Earl Bowser - www.JonathonArt.com



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link do 2º capitulo:http://artlira.blogspot.pt/2011/03/acucena-chapter-ii.html

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