Era véspera das bodas, a tarde caía. Apesar de ainda em convalescença, Philippe chamou uma charrete e dirigiu-se ao paço dos duques, a fim de parlamentar com Édouard.
Os dois homens encontraram-se nos jardins principais da propriedade. Édouard mirava Philippe com um misto de comiseração, altivez e inimizade. O atraente duque notava a beleza e porte do professor e considerou que, se não fora a cadeira de rodas, o pobre seria um bom partido… estas conjecturas atingiam o ego do vaidoso aristocrata, deixando-o um tanto arreliado. “Tolice! Philippe não possuía fortuna nem nada de seu.”
Philippe também mirava Édouard com apreensão. Bem via o quanto ele era sedutor e subjugador, pois esse atributos estavam como que gravados na fisionomia do moreno fidalgo. Alcançava agora, o quanto a inocente bem-nascida estava iludida e deslumbrada com aquele conquistador.
- Conheço a sua fama de valdevinos, Sr. Duque de … - Falou Philippe numa voz firme. – Venho lhe pedir que não faça mal a Açucena. Se for necessário desista do casamento. Açucena é uma mulher pura, delicada, honesta e ingénua. Ela…
Édouard interrompeu bruscamente com um sorriso de escárnio:
-Ora, ora, ora! Afinal a sua afeição por Açucena não é fraterna, Sr. Philippe! Muito nobre da sua parte vir até aqui vir defender a honra da donzela! – Tapou a boca com a mão num gesto teatral, enquanto arregalava os olhos, num fingido pesar. – Ooh, que digo eu? Ela não é mais donzela! ...
Philippe cerrou os punhos e apertou os lábios, indignado, e de boa vontade se levantaria da cadeira para dar uma tareia em Édouard. Este ria sarcasticamente.
-Quer-me desafiar para um duelo? – E num tom gradativamente mais provocador o fidalgo acrescentou olhando com desdém para a cadeira de rodas. – Aah, é verdade! Não pode.
E ria com gargalhadas cheias de escárnio. Philippe virou-se de costas, desolado com o facto daquele estroina já ter tocado em Açucena. A sua querida amada entregara-se àquele vilão. Viu que não tinha mais nada a fazer ali e decidiu partir.
-Já vai? Tão cedo? Que pena! – Édouard prosseguia em tom trocista. – Logo agora que a conversa estava tão boa.
E abaixando-se até Philippe, sussurrou em tom ameaçador:
-Desista, Philippe, já é tarde para si.
O homem louro afastou-se com dignidade, sem lhe responder, e abandonou o local. Meia hora depois, estava em casa de Açucena. Esta ficou surpreendida quando viu Philippe fora da cama. Sentou-se na sala de estar, junto a ele, enquanto o homem lhe pegava na mão, olhando-a nos olhos profundamente. Açucena sentiu um arrepio vindo da alma, com aquele olhar.
-Açucena, eu amo-te de verdade. Estou apaixonado por ti desde o primeiro olhar. Eu tenho a certeza que és a minha alma gémea. Sinto uma união com o teu coração, deveras flagrante. Eu sinto que tu me amas mas não reconheces o nosso amor nem o nosso valor e por isso te iludiste com Édouard. O verdadeiro amor é mais que um corpo físico e sumptuosidade. É algo que vem do coração, da alma. Está para além da vida e da morte. É o que nós somos.
Açucena escutava-o perturbada pelo que sentia em seu âmago. Naquelas palavras parecia redescobrir Philippe como um homem que sabia o que queria. A energia viril e de amor que ele emanava, entrava forte em seu coração e em todo o seu ser. Philippe aproximou perigosamente o seu rosto do de Açucena e os lábios dela começaram a tremer ao sentir o hálito quente e perfumado que saia daqueles lábios masculinos. Sentia-se afectada como nunca antes Édouard a deixara. A verdade é que a jovem nunca tinha visto o amigo de outra forma que não a de irmãos.
-Nãaao! – Gritou Açucena fugindo. Queria parar aquele momento, sentia medo do que estava a sentir e da completa confusão. – Não posso…eu estou comprometida. – E deixou-se estar a um canto.
Philippe suspirou e proferiu: - Assim seja.
À saída estacou, fitando-a intensamente, mas a rapariga não teve coragem de olhá-lo nos olhos.
Açucena não conseguia pregar olho, alvoroçada com o que sentira ao ouvir Philippe. Meu Deus, ele quase a beijara! Mas o mais insólito é que tudo isso mexera com ela de uma forma inusitada. Estaria ela tão enganada assim quanto aos seus sentimentos por Édouard. Perdeu-se assim em pensamentos que a transportaram em despiques sobre o que era estar nos braços de Édouard e o que seria estar nos braços de Philippe.
Philippe! Como este a surpreendera! E na verdade ele era extremamente belo. Mesmo, com um rosto miscelânea de feições delicadas e masculinas. Mas não! ... Ele era entrevado e de qualquer forma ela já dera a sua palavra… e o casamento era já amanhã. Talvez o tempo a ajudasse a esquecer Philippe…
E estando nestas conjeturas finalmente adormeceu.
Link da 2ªparte: http://artlira.blogspot.pt/2011/03/acucena-chapter-ii.html
Link da 4ªparte: http://artlira.blogspot.pt/2011/03/acucena-chapter-iv.html
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