Blogue simples e personalizado, de conteúdo essencialmente literário, dando voz tanto a autores desconhecidos como veiculando autores célebres; com pequenos focos na música, pintura, fotografia, dança, cinema, séries, traduzindo e partilhando alguns dos meus gostos pessoais.
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domingo, 8 de junho de 2014

Açucena : 10º Capitulo - 2ª Temporada - de Florbela de Castro




Édouard jamais experenciara tais delícias. Movimentar-se com o corpo colado ao de Evelyn suscitava-lhe em uníssono um fogo ardente e uma doçura tremenda. Após um extase sentido, deixou-se cair languidamente ao lado da jovem de cabelos vermelhos, beijando-lhe o braço repetidamente. Era a primeira vez que o arrogante nobre se derretia tão profundamente por alguma mulher. Mesmo com Açucena fôra uma paixão carnal e caprichosa. Então com Charlotte nem se comparava; esta permanecia no campo do semi-desinteresse.
Mas Evelyn trazia a Édouard uma nova vida, como que se lhe tivesse insuflado um novo sopro, uma nova alma.
O que Édouard sentia centrava-se no coração e trazia-lhe um fogo irresistível.
Refletindo sobre isto o homem suspirou baixinho e com um olhar doce e verdadeiro, puxou-a de novo para si. Desejava fundir-se de novo na embriaguez daquela mulher.
E fundiu-se.
Evelyn sentia a rendição do ex-don juan, sorrindo internamente. Agradava-lhe a entrega e a mudança. Mas mantinha-se erecta no seu pedestal sem sucumbir demasiado aos apelos do coração. No entanto não podia negar que as delícias nos braços de Édouard eram extremamente gratificantes.
A forma vuluptuosa como cada um se mexia contagiava o outro, num circulo infindável de prazer, as mãos entrelaçavam-se, os corpos movimentavam-se num ritmo crescente, enquanto trocavam beijos sensuais e gemidos sentidos.
Eram assim os seus encontros pautados igualmente por muito diálogo, algo de estranhar em Édouard, que raramente conversava com as suas conquistas. Mas com Evelyn sentia-se tão à vontade ou ainda mais, do que com os seus amigos.
Sempre que voltava para casa, Açucena encontrava um marido pensativo e distante,mas pelo menos não embriagado nem violento. Aliás, ele mal lhe falava e nem a tocava. Não se tratava de um ignorar da sua presença mas sim dum respeitar da sua pessoa e do seu espaço.
Entretanto, passado algum tempo Evelyn acabou por revelar ao seu amigo, o principe Phillipe, a sua relação com o duque. O amigo ouviu-a surpreendido, não com o facto da sua amiga manter um romance clandestino, pois conhecia a natureza indomável e forte de Evelyn, mas sim por saber que o duque se encontrava rendido. Refletindo, decidiu não contar nada a Açucena. Além disso Édouard não sabia da amizade de Evelyn com o principe nem do romance do principe com sua esposa, Açucena.
Aos poucos o duque largara a bebida e largava também o vício do jogo. Passava quase todos os dias na residencia luxuosa de Evelyn, fosse muito ou pouco tempo.
Deixara igualmente de aparecer para visitar Charlotte e esta estranhava a sua ausência. Não sabia exatamente onde Édouard vivia, nem qual seu sobrenome, mas guardava um retrato pequeno dele em oval, pintado à mão, que o próprio lhe oferecera, devido aos filhos que haviam tido juntos.
Munida desse retrato, Charlotte partiu um dia para a grande cidade a fim de o procurar e após dois dias de indagações, chegou ao palacete de Édouard.
Quem a recebeu foi uma surpresa Açucena, que ao início não esclareceu a sua própria identidade à interlocutora. Esta contou a natureza da sua ligação com Édouard e os filhos nascidos, julgando que Açucena era irmã dele.
A jovem duquesa ficou siderada com a revelação de Charlotte sobre sua existência e das crianças. Charlotte falava, desabafando. Açucena sentia-se sem coragem para se revelar. Naquele momento, a ama entrou com a filha de ambos. Ao início Charlotte sorriu ao ver a criança congratulando-a pela beleza da menina, mas algo na atitude embaraçada de Açucena deu-lhe o alerta. De olhos esbugalhados, mirou a criança e a jovem de cabelos cor-de-mel e de repente percebeu tudo. Estremeceu empalidecendo e caiu desmaiada.
Açucena socorreu-a sentindo pena dela. Levou-a para salinha contígua aos seus aposentos para ela recobrar os sentidos.Ofereceu-lhe chá e algo doce para lhe voltarem as cores à faces, ao qual Charlotte aceitou, muda e cabisbaixa. Açucena entreolhava-a condoída e sem saber o que fazer, enquanto na cabeça de Charlotte múltiplos pensamentos se cruzavam e um deles era fugir dali o mais rápido que pudesse, mal as suas pernas fracas o permitissem. Foi lá que o duque as foi encontrar.


Imagem  da autoria de Jasmin Darnell

link do 9º capitulo da 1ªa Temporada:http://artlira.blogspot.pt/2011/07/edouard-abriu-os-olhos-vagarosamente-e.html
Link do 11ª Capitulo : http://artlira.blogspot.pt/2014/08/acucena-11-capitulo-2-temporada-de.html


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domingo, 1 de junho de 2014

Conto : "O Principe - Trovador" - 3ª Parte e última Parte - De Florbela de Castro





Raimundo, a partir da data do encontro com Aurora, passara a compor belas melodias em homenagem ao seu belo amor, deixando também pequenos versos românticos espalhados pelo palácio, na esperança furtiva de que a jovem misteriosa fosse realmente Aurora. Os nobres que frequentavam a corte sorriam e aclamavam alegremente as trovas, encarando-as como uma forma criativa e artística do seu principe expressar a sua inspiração ou até de homenagear a sua prometida.

Mesmo sem voz e sabendo da cegueira do seu amado, Aurora sentia no seu coração e alma que as trovas e versos lhe eram dirigidos, enchendo-se de contentamento. Porém, mantinha uma postura discreta para não revelar a sua identidade.

Varynia, a nova princesa, era geniosa e imprevisìvel. Mas perante a sociedade ela afivelava uma máscara de grande benignidade.Os serviçais temiam-na e viviam subjugados pelo seu poder e pelo medo. A família real parecia não se aperceber da verdadeira personalidade da princesa. O principe Raimundo acompanhava-a em passeios, refeições e pequenos espetáculos de diversão, sendo sempre amável e solícito.

Por seu turno, Aurora escutava e assistia ao desvelar da verdadeira princesa. Tal como todos, ouvia os impropérios proferidos por esta quando as coisas não se encontravam à sua feição. Aurora pensava para si mesma que o principe tinha caído num grande engano, contudo não estava em posição de intervir.

A linda bordadeira pensava na sua fada-madrinha para vir em seu auxílio mas agora não vivia nem dormia sozinha e era arriscado expôr-se dessa forma.

Numa das suas folgas dirigiu-se sozinha aos arredores da cidade, adentrando o bosques. Abalara cedo de manhã pois a orla da floresta ainda era distante.

Duas horas depois chegou perto dum ribeiro que uns quilómetros mais adiante se fundia com o mar. Descansou na relva atapetada de flores e então dispôs-se a chamar pela fada-madrinha com o seu pensamento, visto que estava muda.

Porém, não obteve resposta. Em vez disso, viu um redemoinho surgir na água e uma mulher de aspeto transparente e vestido azul, materializar-se. Aurora ficou perplexa e recuou um pouco, mas a aparição instou-a a aproximar-se e apresentou-se como sendo a Senhora Das Águas. A senhora aquática parecia ouvir os pensamentos de Aurora e transmitiu-lhe que os sentimentos e pensamentos eram como as ondas do mar e as correntes dos rios. A morena mulher sentia uma calma e uma pacificidade junto da inusitada presença feminina. Esta convidou-a a mergulhar nas águas para conhecer o seu palácio no mar. A jovem mulher olhou-a assustada e confusa, enquanto a Aquática Presença soltava uma gargalhada que se assemelhava ao borbulhar da água e lhe estendia um búzio cheio de água para ela beber. Depois deu-lhe a mão e as duas mergulharam, com Aurora em suspense.

A bela moça terrestre visitou, encantada, o belo palácio de madrepérola e coral, entendendo-se com os conterrâneos aquáticos e demais espécies apenas através de pensamentos. Longo tempo depois foi levada de volta à terra. Já na margem, a Senhora das Águas transmitiu-lhe que não podia intervir do mesmo modo que a fada mas que lhe presenteava com algo: a sua voz. Assim já poderia lidar com mais independência, com a situaçao de Varynia e o principe Raimundo. E docemente, despediu-se num murmurar de águas.

Com uma gargalhada sonora Aurora rodopiou quase como que dançando, porém foi bruscamente parada por uma exclamação de fúria e escárnio: - Não tão rápido minha menina! Já sei quem tu és e quais as tuas intenções! - A voz de Varynia soava ameaçadora – Mas lamento informar-te que jamais te poderás reunir ao teu querido principe! Sabes porquê?

E pronunciando isto, enterrou as mãos na terra erguendo-as, vociferando:

- Porque eu tenho poder da terra e por isso comando que te transformes numa árvore!

Perante estas palavras, a mulher metamorfoseou-se numa árvore de copa frondosa.


O principe Raimundo recordava muito Aurora. Sabia que a sua vida tinha de prosseguir mas sentira nos últimos tempos a sua presença de uma forma marcante e de repente... Nada. Tudo parara. Será que Aurora estivera realmente presente na sua corte, no palácio real? Se assim fora, porque não lhe falara? A ideia tanto lhe parecia descabida como também a mais coerente.

Bateram à porta. O seu fiel escudeiro chamava-o para o seu passeio matinal. Apesar de cego, o principe continuava a cavalgar. Ao passarem nos pátios exteriores junto `as cavalariças, Raimundo ouviu duas crianças soluçar. Condoído perguntou o motivo da tristeza deles. Estas responderam que a sua mãe havia desaparecido e eles estavam sós no mundo.

Comovido, o principe sossegou as crianças quanto ao seu futuro e tomou-os em sua proteção. Entretanto indagou-os dos pormenores do desaparecimento da progenitora. Mas as crianças pouco lhe adiantaram. Uma outra serviçal acabou por se aproximar acanhadamente, explicando ao principe quem era a mãe das crianças e como viera para o palácio e que havia uma semana que ela saíra para os arredores do bosque e jamais voltara.

Raimundo achou tudo muito estranho. E a suspeita de que aquela poderia ser Aurora, solidificou-se. Era o que o seu coração lhe dizia.

“Mas então... se ela era Aurora as crianças eram... Seus filhos!”

Aquele pensamento fê-lo estremecer alvoroçado.

Imediatamente nomeou uma dama da corte para ama das crianças e acompanhado do seu escudeiro, dirigiu-se aos aposentos de Aurora e demais serviçais, pedindo para lhe entregarem os seus haveres. Não tardou em descobrir a capa azul e pelo toque e aroma reconheceu ser a de Aurora. Imediatamente a janela do quarto se abriu e surgiu a fada-madrinha de Aurora.

Com vivacidade contou-lhe todos os pormenores da vida de Aurora desde o afastamento do principe atá à data presente. Revelou-lhe a verdadeira índole de Varynia, o que ela fizera à sua amada e o prévio encontro desta com a Senhora das Águas. E finalizando, proferiu que estava nas mãos de Raimundo inverter aquela situação. Após declarar isto, retirou-se.

Raimundo ouviu-a siderado. Não sabia o que fazer para a salvar. Sufocado, o principe saiu com o seu escudeiro numa cavalgada desenfreada até ao local onde estava Aurora transformada em árvore. Ali chorou copiosamente. As suas lágrimas ao tocarem no solo transformavam-se em belas margaridas. Cedo o solo em redor ficou atapetado das ditas flores, pois o principe passou a rumar àquele local diariamente.


Haviam decorrido poucos dias e a canícula fazia-os suar debaixo das suas fardas.

Na sua visita diária Raimundo decidiu refrescar-se no ribeiro, por esse mesmo motivo e para limpar as suas lágrimas. Dispôs as suas mãos em concha e limpou abundamentemente o seu rosto com a água. Qual não foi o seu pasmo quando percebeu que voltara a ver! No seu rosto rasgou-se um sorriso exultante e cheio de alegria partilhou com o seu amigo e fiel escudeiro a boa nova. Os dois abraçaram-se radiantes e Raimundo dispôs-se a tocar uma das suas trovas com o seu alaúde, sentados confortavelmente junto à arvore.

Porém algo ainda mais assombroso os esperava: à medida que o principe dedilhava as notas no instrumento e cantava, a árvore foi gradualmente transformando-se em Aurora!

O encontro foi de um sentimento indescritível. Abraçavam-se, tocavam-se, riam-se, falavam quase ao mesmo tempo.

Após o fervor inicial, dispuseram-se a rumar ao palácio. Todavia a ventura ainda não se firmara nas vidas deles. Mal tinha dado uns passos quando Raimundo foi envolvido por um ramo de árvore, sendo arremessado a uns metros de distância.

Frente a eles estava Varynia.

- Se eu não posso ficar com Raimundo, ele não será de mais ninguém!

E dizendo isto, revirou a mão fazendo abrir um buraco no solo, onde Aurora foi-se afundando.

Subitamente um rumor ouviu-se das águas do ribeiro e erguendo-se do mesmo surgiu a Senhora das Águas. Com um jato de água saído duma das mãos, inundou Varynia, fazendo-a rodopiar num redemoinho e depois ser arrastada pela correnteza do ribeiro, levada para longe até ao mar. Seguidamente com um repuxo retirou Aurora da cavidade onde estava enterrada. Raimundo aproximou-se com alguns arranhões e nódoas negras.

A senhora das Águas percorreu a distância que os separava, caminhando sobre as águas.

Parabenizou-os, revelando que já conhecia Raimundo por velejar nas águas do oceano e congratulou-os pela união.

Assim voltaram para o palácio, sendo revelada toda a trama de Varynia e a identidade e história de Aurora e os filhos.





Pouco tempo depois, foi anunciado o casamento e houve vários dias de festa por todo o reino.

A boda teve lugar no bosque mesmo junto ao ribeiro, sendo assistida por uma multidão de pessoas e abençoada pela fada-madrinha e celebrada pela Senhora das Águas. Os trajes de Aurora e o principe eram de cetim branco bordados a prata, com capa e véu, respetivamente, em cetim e gaze cor de champanhe.

A Senhora das Águas selou a união com Água e pérolas e no final todos festejaram, parte em terra, parte na água, mergulhando todos, após beberem água de um búzio.

A lua de mel foi uma longa viagem em alto mar, cruzando oceanos e conhecendo novas paragens, tanto cidades populosas, como ilhas quase desertas.

Raimundo reinou por longo tempo, sendo conhecido pela sua aliança e respeito pela água e pela natureza, seguindo sempre a voz do seu coração e contando sempre com o apoio e partilha em amor e cumplicidade, da sua rainha Aurora. Os seus filhos sucederam-lhe, seguindo o seu exemplo de respeito por tudo à sua volta, bem como o amor pelas artes.

FIM
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Imagens:
Meghan Photography
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Rowena Morrill

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