Nos tempos da Renascença, onde florescia a arte, vivia na Rússia um jovem de origem modesta, que almejava ser pintor. O seu nome era Alexander.
Alexander era magro, de estatura média, pele quase cor de baunilha pálido, olhos amendoados e negros como os seus cabelos ondulados, usava bigode fino e pera.
Apesar de bonito e em idade casadoira, Alexander não arranjava pretendentes, pois interiormente era uma pessoa um pouco fechada e abrupta.
Alexander tinha um sonho: tornar-se um pintor famoso. Porém não tinha posses para frequentar uma academia, nem conhecimentos influentes para se tornar pupilo de algum mestre famoso. Os seus pais também reprovavam essas atividades e apesar do filho ser detentor de um dom nato não o incentivavam a pintar. Ao início Alexander pintava e desenhava às escondidas, mas após seus pais descobrirem, foi instado a abandonar os seus sonhos.
No presente momento, Alexander ficara órfão e como era filho único, sem família, conjecturou voltar a pintar. E como faria para arranjar dinheiro para os materiais? Cedo arquitectou uma forma. Foi vendendo o recheio da casa até quase a esvaziar. A seguir foi pondo mãos à obra, noite e dia, e produziu um quadro de natureza morta. Estava maravilhoso; Alexander admirou até altas horas e por fim adormeceu sonhando em ganhar um bom dinheiro com este.
No dia seguinte acordou bem cedo para ir para a feira levando a sua obra debaixo do braço. A feira estava apinhada, com banca de doces, tecidos, hortaliças, pratas, tamancos e uma profusão de pessoas.
Enquanto se dirigia ao local para vender o seu quadro, Alexander sentia fome e já sonhava deliciado com o deglutir de uma nêspera sumarenta e de um pão com queijo. Ao caminhar tropeçou em várias frutas e até ouviu uma peça de vidro fragmentar-se em mil pedaços "Estes mercadores se não têm cuidado só verão prejuízos no final do diz", pensou ele. Finalmente alguém lhe perguntou o que ele levava ali. Tratava-se de um casal de uma certa idade e de aspecto abastado. Talvez fosse algum meirinho.
-Este quadro retrata uma maravilhosa taça de cristal adornada de belos frutos - anunciou Alexander, virando a tela para o casal de meia idade.
Os seus rostos ficaram sem expressão ao fitar aquela obra enquanto o jovem pintor ostentava um sorriso triunfante. à medida que o abastado cliente transfigurava a sua expressão curiosa numa de ira, o sorriso de Alexander desmaiava no seu rosto.
-Patife! - vociferou o velho - Tomais-me por idiota?? Como ousas querer enganar-me!?
-Enganá-lo, senhor?... - o jovem artista estava perplexo - Se a minha tela não vos agrada... - foi interrompido pelos sorrisos e gargalhadas de sarcasmo de uns e os impropérios iracundos de outros.
Só então o pintor olhou para a sua tela e o que viu fê-lo empalidecer de espanto. Nada havia ns mesma a não ser um fundo castanho escuro que ele tão primorosamente pintara. Mas...como era aquilo possível??...
Alexander estava desnorteado, contudo teve de fugir lestamente para não ser atacado pela multidão. Derrotado e esfomeado, chegou a casa sem compreender o sucedido. Pensou, pensou e por fim adormeceu angustiado, pois dormir já era meio sustento. Ao acordar de manhã uma interrogação tomou forma na sua mente: A taça que se partira e as frutas pelas quais tropeçara na feira seriam as do quadro?
Assomou-lhe então uma ideia à cabeça e sem mais delongas pôs-se a esboçar um quadro onde o tema era uma lauta refeição. Terminou-o já noite alta e extenuado e enfraquecido adormeceu. Acordou de manhãzinha com uma mesa farta e deliciosos aromas. Sim, mesa que ele nem sequer tinha mas que havia desenhado, adornada de uma vistosa toalha vermelha. Vitorioso Alexander atirou-se à bela refeição esfaimado.
A partir dali, ele passou a desenhar as suas refeições diárias e voltou a mobilar a sua casa. Tentou ser discreto com a vizinhança, fazendo-os acreditar que vendia os seus quadros numa vila longínqua. Passaram-se longos meses. O dom tomara a cabeça de Alexander. Este afastara-se da aldeia e, entrando na floresta, havia desenhado um belo palacete com um luxuoso palacete. Depois, criados, belas carruagens e cavalos, magnificas roupas.
Haviam-se passado três anos. Apesar da criadagem, sentia-se só. Lembrou-se então de desenhar uma mulher.
Três dias gastou a desenhar, pintar e aprimorar uma bela mulher. No final Alexander mirou o quadro satisfeito, sentindo-se um Deus, pois brevemente teria a sua Deusa nos seus braços. Aliás, passou o resto do dia admirando a sua obra e a bela mulher; até fez as suas refeições nos seus próprios aposentos para não desfitar os olhos da pintura. Bem sabia que no dia seguinte ela ganharia vida.
Tentou deitar cedo, mas custou-lhe a adormecer. Finalmente mal abriu os olhos, saltou da cama e e deparou-se com a formosa mulher. Esta era de estatura média, delgada, de olhos claros esverdeados, cabelo escuro e ondulado, de beleza delicada mas selvagem; tão genuína era a sua essência que não parecia ter sido inventada por um pintor mas sim diretamente criada por fonte divina.
Alexander permaneceu de olhos esbugalhados a contemplar a linda mulher e imediatamente se viu apaixonado por ela.
A partir daquele dia o homem tornou-se um delicado companheiro da bela Nathalie, de seu nome; presenteava-a com os mais belos vestidos, tecidos, toucados, jóias e perfumes. Brindava-a com finas iguarias, exóticas frutas, deliciosas sobremesas. Conversava e passeava com ela à noite...na realidade, Alexander monologava pois a mulher permanecia sem emitir qualquer som desde que surgira.
Mas o homem, louco de paixão, nem se parecia importar com isso. Por ela pintou mais retratos, casas, jardins, o mundo...Contudo a jovem permanecia calada e reservada, suspirando de vez em quando.
Alexander bem via que a sua paixão não era correspondida e que nada fazia feliz a sua Nathalie. Isso também o deixava infeliz. Porém a paixão dominava-o e só o fazia teimar na sua conquista. Febrilmente pintava presentes magníficos, manjares deliciosos, luxos ostensivos continuamente, mas nada disso trazia o amor de Nathalie…
Desesperado, um dia, interpelou a linda moça do que fazer para a conquistar.
Esta, por fim, respondeu-lhe em voz clara e límpida.
-Amarei aquele que tiver uma alma cristalina e um coração de ouro.
Esta resposta deixou Alexander confuso. Uma alma cristalina?... Um coração de ouro?... Como pintar isso?...
Passou semanas errático e cismático, acabrunhado por não saber como pintar aquilo e torná-lo seu.
Até que um dia ouviu falar numa velha feiticeira que vivia na orla da floresta e resolveu visitá-la apresentando-lhe todo o seu caso.
Esta deu uma gargalhada e disse que a fama de Alexander precedia-o. Pausadamente falou que tinha a solução para ele. A três aldeias dali vivia um rapaz de coração de ouro e alma cristalina e que Alexander só precisava ir buscá-lo e assinar um pacto com ela, lacrado com o seu sangue. Excitado mas ainda confuso, o pintor tartamudeou como iria reconhecer o rapaz e como iria conseguir transferir o que ele queria para ele mesmo.
A velha estendeu-lhe uma pulseira de diamante afirmando que esta brilharia intensamente mal ele se acercasse do rapaz e que à vista desta, o pobre rapaz perderia a reação dando espaço para o pintor lhe colocar a pulseira, fazendo segui-lo fielmente.
-Quanto ao resto, tudo acontecerá naturalmente – respondeu a velha misteriosamente e já atarefada com a elaboração escrita do pacto.
Alexander não imaginava o quão malogrado se tornava naquele momento.
Link da 2a parte -final:
http://artlira.blogspot.pt/2011/11/o-pintor-de-quadros-2-e-ultima-parte.html
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